30 outubro 2009

Como o autista se processa ao longo da vida?

O autismo não pode ser diagnosticado apenas a partir de um só sintoma, é necessário que estejam presentes simultaneamente os sintomas principais o que acontece, por vezes, antes dos 3 anos.
Ao longo da vida há uma evolução dos sintomas relacionada com as características dos diferentes níveis etários e com as características individuais. A pessoa com autismo é um indivíduo único e não deixa de passar por todas as etapas da vida como qualquer outro ser humano.
O bebê com autismo pode demonstrar: indiferença, falta de interesse pelas pessoas e pelo ambiente, medos estranhos. Não dá resposta ou dá respostas diferentes das dadas pelos outros bebés. Pode ter problemas de alimentação, ou de sucção; ter falta de interesse pela comida; rejeição ou preferência por certos alimentos. Pode ter problemas de sono e chorar muito ou nunca chorar.

Até aos 12 meses podem aparecer comportamentos repetitivos, restritivos ou estereotipados (bater palmas, rodar objectos, abanar a cabeça). A criança pode ter interesses obcessivos pela luz, por um brinquedo ou objecto. Pode tardar a andar.

Até aos 24 meses, manifesta-se a ausência ou dificuldade de comunicação verbal e gestual. A linguagem pode tardar ou não aparecer.

A criança pode não manifestar interesse pelas actividades de autonomia que começam geralmente nessa idade (querer comer sozinho e vestir-se sozinho); dá respostas inadequadas aos estímulos sensoriais: tem hipo ou hiper sensibilidade ao frio e ao calor, à luz, à dor ou a certas texturas. Há falta de correlação da causa efeito.
Depois dos 2 anos, a criança pode não brincar normalmente, não entrar em brincadeiras com pares ou com o grupo.

A esta altura, os problemas do domínio cognitivo, especialmente de linguagem, começam a estar presentes. A criança com autismo usa a ecolália frequentemente. Fala, utilizando padrões repetitivos e não usa o «sim» e o «não»; inverte os pronomes; escolhe palavras cujo som lhe agrada e repete-as fora do contexto. Não compreende os sentidos figurados.

O período dos 3 aos 6 anos é uma etapa muito difícil para a criança e para os pais pois a deficiência manifesta-se claramente. Podem aparecer comportamentos agressivos, birras sem causa aparente, medos excessivos ou irracionais de situações diárias.

Dos 6 anos à adolescência alguns dos sintomas mais perturbadores de comportamento tendem a diminuir. Mas o autismo permanece uma incapacidade para o resto da vida.

Com educação adequada, os sintomas podem não ser tão patentes e haver uma melhoria da qualidade de vida. Por outro lado, um ambiente inadequado ou falta de educação apropriada podem levar a uma regressão e/ou perda de capacidades previamente adquiridas e ainda a deteoriação de comportamentos como a auto-mutilação, gritos, destruição...

Fiocruz desenvolve exame inédito, e mais confiável, para autismo

O Brasil está desenvolvendo um exame laboratorial inédito para o diagnóstico do autismo, uma alteração caracterizada por isolar seu portador do mundo ao redor. O método promete ser uma alternativa mais confiável aos testes de laboratório hoje usados para identificar a doença. "Ainda estamos em fase de estudos, mas os resultados são promissores", diz o pesquisador responsável, Vladmir Lazarev, do Instituto Fernandes Figueira, centro de pesquisas ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. "Testamos o método em 16 autistas jovens e obtivemos dados homogêneos, muito significativos estatisticamente. Agora, queremos fazer novos testes. A previsão é de que o exame esteja pronto em até cinco anos."

De acordo com Lazarev, cientista russo radicado no Brasil há 15 anos, a vantagem do novo método está no uso da foto-estimulação rítmica. O recurso torna o exame mais completo que outros. Em linguagem comum: durante o já usual eletroencefalograma, projeta-se sobre o paciente uma luz que pisca de forma ritmada, estimulando os neurônios do cérebro a acompanhar no mesmo ritmo. Como o autismo é uma doença do cérebro, a reação deste ao estímulo luminoso pode indicar se ele apresenta alterações que podem se relacionadas à doença.

Os 16 autistas examinados durante a pesquisa, por exemplo, apresentaram deficiência no lado direito do cérebro. Nesta parte, que é responsável pelas habilidades sócioafetivas da pessoa - confira aqui quadro sobre o cérebro -, a atividade elétrica cerebral dos pacientes seguia o ritmo da luz, mas de maneira mais atenuada. "Com isso, podemos concluir que há uma deficiência funcional no hemisfério cerebral direito do autista", explica Lazarev.

Exames como a eletroencefalografia, se empregados com o paciente em estado de repouso, não detectam alteração na atividade elétrica do cérebro. Os resultados, portanto, nem sempre são satisfatórios quando não são empregados métodos de estimulação...

Entenda melhor a doença - Segundo Adailton Pontes, parceiro de Lazarev na pesquisa, o autismo é considerado hoje não apenas uma doença, mas uma série de distúrbios de desenvolvimento capazes de comprometer a interação social, a comunicação social e as habilidades imaginativas. "O autismo não é uma coisa única, há várias formas de autismos que variam no grau de comprometimento das funções - mais leve, moderado, mais grave e com níveis diferentes de inteligência", diz o pesquisador.

A base da doença é genética. O papel do ambiente - das influências externas recebidas pelo autista - ainda é desconhecido. "O que se sabe é que a pessoa nasce com predisposição para o autismo e, já a partir dos dois anos pode apresentar os primeiros sinais da doença, como a ausência de linguagem e a dificuldade de brincar", conta Pontes. "O ideal é diagnosticar a doença até os três anos. Está provado que, quando se faz a intervenção precoce, o prognóstico é melhor. Eles não vão se curar, mas vão se desenvolver mais, vão superar algumas dificuldades que os outros podem não superar porque não foram estimulados."

O autismo não tem cura, mas o portador da doença pode tomar remédios contra sintomas específicos, como a agressividade.