28 julho 2008

Mãe luta pelo futuro de Davi

Um dia por semana, a dona-de-casa Azenilde dos Santos Silva, 33, percorre de ônibus o trajeto de Cajazeiras XI, onde mora, a Ondina, com o filho Davi, de 11 anos. Diagnosticado com transtorno invasivo do desenvolvimento, suspeita de autismo, o menino tem atendimento psicopedagógico no Centro de Educação Especial da Bahia (Ceeba), órgão estadual que presta apoio a deficientes.

No turno da manhã, Davi cursa a 4ª série do ensino fundamental regular na escola municipal do bairro onde mora, como prevê a lei. À tarde, além do Ceeba, ele também recebe acompanhamento psicológico, psiquiátrico e fonoaudiológico, em unidades de saúde espalhadas pela cidade. “Tem cinco anos que vamos a vários médicos. Eu não trabalho justamente porque tenho de levá-lo para os atendimentos, porque sei que ele precisa”, conta a mãe.
O sustento da família, que inclui mais um filho de 2 anos, vem do salário mínimo do marido de Azenilde, que é jardineiro. “Enquanto estiver viva, nem que eu passe fome na rua, como já passei, não vou abandonar meu filho”, desabafa. Talvez sem saber, ela está fazendo cumprir os direitos assegurados pelo ECA a crianças e adolescentes, independentemente de terem ou não deficiência.


No caso de Davi, a contrapartida do Estado ainda deixa a desejar. Apesar de matriculado na rede municipal, a educação inclusiva não ocorre plenamente. Por falta de atendimento especializado, o menino tem que se deslocar ao Ceeba, em Ondina. Na sala de aula, enquanto os outros alunos estudam os conteúdos da grade curricular, Davi faz atividades separadas, passadas no caderno pela professora.


“Ele vai para a escola se socializar, para não ficar em casa sem fazer nada”, declara a mãe. Quando questionado, Davi confirma, num breve monossílabo, que não acompanha o que é ensinado aos outros colegas. Com dificuldade de leitura, escrita e aprendizagem, o garoto lê as letras, mas ainda não consegue formar palavras.


Segundo ela, a professora já a procurou para dizer que não tem formação para o caso. “A diretora confirmou que a escola não tem estrutura para ele, mas o que eu posso fazer? Pelo menos há outras crianças e ele já consegue interagir”, resigna-se a mãe. Apesar dos entraves, a psicopedagoga que atende Davi no Ceeba, Maricélia Almeida, defende a educação inclusiva: “Se você coloca sempre os iguais, o menino não avança.Mas é óbvio que não adianta jogar na escola regular sem dar acompanhamento. A inclusão é trabalhosa, mas deve ser feita”.


Com lágrimas, Azenilde revela a esperança de ver o filho se desenvolver: “Eu tenho fé que ele vai alcançar os outros”.